sexta-feira, 6 de abril de 2007

O Céu Austral no Verão


Por: Ulisses Capozzoli

As noites de verão do hemisfério celeste sul (os hemisfério são delimitados pela projeção do equador da Terra, formando o equador celeste) têm como destaque a belíssima constelação do Órion.


Essa constelação é uma das referências para iniciantes em astronomia, pela presença das Três Marias (Mintaka, Alnilam e Alnitaka), formando o cinto do gigante Órion. Órion tem outras estrelas magníficas, como Betelgeuse, Bellatrix, Saiph e Rigel.


Bem próximo, a sudeste de Órion, estão as constelações do Cão Maior, onde o destaque é Sírius e, a noroeste, o Touro, exibindo a super-gigante vermelha Aldebaran. Ela forma o "olho" do Touro. Ainda nas proximidades do Touro, o inconfundível asterismo formado pelas Plêiades amplia a beleza do céu.


Nas proximidades do Cão Menor, que exibe Prócion (esbranquiçada dupla) não muito distante do Cão Maior, a constelação zodiacal de Gêmeos mostra suas belas Pollux e Castor. E, ao norte do Touro, a constelação de Auriga apresenta Capella, na verdade um sistema estelar duplo onde a estrela principal tem 16 vezes o diâmetro o Sol e luminosidade 150 vezes maior.


No verão, condicionado ao horário da observação, Canopus (Alfa de Carina, 85 vezes o diâmetro do Sol e 2 mil vezes mais luminosa), estrela guia das naves enviadas para planetas exteriores, também está visível.


Cruzeiro do Sul aparece bem baixo no horizonte em dezembro e eleva-se em janeiro, quando Alfa do Centauro, sistema estelar triplo mais próximo do Sistema Solar também está visível.
PrecauçõesPara observação noturna, tenha ao alcance da mão uma lanterna com um filtro vermelho, para pequenas emergências.


A luz vermelha de uma dessas lanternas que podem ser encontradas em lojas de material de camping, não agride os olhos e permite que sua pupila se readapte imediatamente à escuridão da noite.


Repare que as estrelas têm cores diferentes. Algumas são brancas, outras azuis. Existem estrelas amareladas e algumas são vermelhas. Outras parecem pedras preciosas, cintilando em várias cores: azul, verde e vermelho.


O que essas cores indicam?

As cores revelam a temperatura das estrelas e estão intimamente associadas às suas idades, em termos evolutivos. As estrelas brancas, como Sírius, têm temperaturas muito elevadas e são mais jovens porque começaram a processar o combustível termonuclear (a fusão) há menos tempo que as amarelas e vermelhadas. As azuis também se encaixam nessa categoria e estão bem próximas das brancas.


As estrelas amarelas, como o nosso Sol, são de meia-idade. São quarentonas / cinquentonas, se comparadas a seres humanos. Têm temperaturas menores, já processaram parte de seu estoque nuclear e, em muitos casos, devem abrigar colares planetários à sua volta, ao contrário do que deve ocorrer com as estrelas brancas e azuis.


Já as vermelhas, como Aldebaran e Antares são estrelas bem velhas, caminhando para a morte. Algumas delas já podem ter morrido, mas o sinal desse fim (no caso de uma estrela marcado por uma enorme explosão) ainda pode estar viajando no espaço-tempo e, a qualquer hora, chegar aqui.


Quanto às estrelas que cintilam em várias cores como pedras preciosas num salão de baile, repare que geralmente elas estão bem baixas no horizonte. Nesse caso, é a diferença de temperatura das várias camadas atmosféricas (especialmente com atmosfera mais turbulenta, pela formação de tempestades) que agem como filtros deixando passar, a cada fração de segundo, cada uma dessas faixas luminosas.


Essas estrelas também costumam apresentar movimentos rápidos e irregulares, que muitos confundem com Objetos Voadores não Identificados (Óvnis). Mas também aqui, é a turbulência da atmosfera que dá essa idéia de deslocamento.

Colisão nas bordas do Sistema Solar

Por: Lucas Telles

Pesquisadores norte-americanos descobriram um conjunto de corpos celestes no cinturão de Kuiper que deve ter se originado de um único objeto, destruído em uma colisão há cerca de 4,5 milhões de anos. Os fragmentos têm órbita próxima à de Plutão e, se unidos, teriam quase o mesmo tamanho do planeta-anão.


A descoberta deve servir a estudos sobre a colisão de objetos celestes e para a reconstituição histórica do cinturão de Kuiper e do Sistema Solar.

O maior dos objetos encontrados, registrado como 2003 EL61, tem forma irregular e velocidade de rotação muito alta. A rotação contribuiu para que ele ganhasse a forma de uma "bola de futebol americano meio esvaziada e pisoteada", descreveu Michael Brown, líder do estudo e astrônomo do Instituto de Tecnologia da Califórnia, em comunicado à imprensa. O objeto também foi apelidado de "Santa" (Papai Noel), por ter sido identificado primeiramente próximo ao Natal de 2003.


Outros cinco objetos foram encontrados, com características físicas muito próximas às de 2003 EL61, como espectros acinzentados e condizentes com a presença de gelo de água na superfície, o que indica que já formaram um único corpo.


Nenhum outro objeto conhecido no cinturão tem as mesmas características. Enquanto o 2003 EL61 tem 1500 km de comprimento, sendo o terceiro maior objeto do cinturão de Kuiper - atrás de Plutão e Eris - os outros corpos têm dimensões de 10 Km a 400 km.


O grupo foi a primeira "família colisional" encontrada em Kuiper, que fica além da órbita de Netuno, nos confins do Sistema Solar. Acredita-se que o cinturão seja um resquício do disco primordial, de grande massa, que deu origem ao atual Sistema Solar, após sofrer um processo de "escultura".


Em artigo publicado na revista Nature (15 de março), os pesquisadores liderados por Michael Brown indicam que a colisão que deu origem a esses fragmentos deve ter ocorrido após o processo de escultura, devido ao fato de os corpos terem mantido as características semelhantes de suas órbitas.


Por outro lado, o choque deve ter acontecido em um período em que o cinturão tinha maior número de corpos, com maior probabilidade de ocorrência de colisões.

Fonte : http://www2.uol.com.br/astronomy/noticias/colisao_nas_bordas_do_sistema_solar.html

Céu estrelado

Ulisses Capozzoli Editor de Astronomy Brasil, é jornalista especializado em divulgação
científica , mestre e doutor em ciências pela Universidade de São Paulo.
Por: Ulisses Capozzoli

Para observar o céu, tudo o que você deve fazer é afastar-se da iluminação urbana. Procure um lugar, de preferência mais elevado, para ampliar os limites do horizonte. Se possível, use uma dessas espreguiçadeiras de praia que permitem deitar de costas, numa posição confortável, com toda a abobada celeste frente aos seus olhos.


Caso contrário, cubra o chão com algum material capaz de proteger contra a umidade do solo e a eventual picada de insetos ou outros pequenos animais. Faça tudo isso, de preferência, ainda com a luz do dia, eventualmente na companhia de uma ou mais pessoas. E prepare-se para o grande espetáculo, logo que a noite chegar.


Comece sua viagem pelo espaço-tempo. O céu estará aberto aos seus olhos como uma imensa catedral onde pelo menos 7 mil estrelas visíveis a olho nu parecem crepitar como fogueiras distantes. De alguma maneira, são fogueiras distantes, mas o combustível que as alimenta é de natureza termonuclear.


A fusão nuclear - envolvida com a transformação de elementos químicos, como previam os alquimistas - é a usina de força das estrelas. Se o fogo e a panela dos alquimistas eram fraco e reduzido para promover a transmutação dos elementos, o enorme caldeirão estelar, com temperaturas de milhões de graus no núcleo, pode fazer essas transformações.


E, em conseqüência disso, liberar energia. Entre essas formas de energia, a luz visível que suas retinas recebem. Ela chega de profundezas variáveis do espaço-tempo. Alguns exemplos: Sírius, a estrela mais brilhante do céu (Alfa do Cão Maior) está a 8,7 anos-luz da Terra. Aldebaran (Alfa de Touro) encontra-se a 64 anos-luz e Antares (Alfa do Escorpião) está a 365 anos-luz.


O que significa isso?

Significa que a luz que saiu de Aldebaran, por exemplo, viajou 64 anos (deslocando-se a 300 mil km por segundo, a luz percorre perto de 9,5 trilhões de km em um ano, distância que os astrônomos chamam de um ano-luz) antes de atingir sua retina e ser interpretada pelo cérebro como a luz de uma estrela.


Se você quiser saber a distância, em quilômetros, até Aldebaran, basta multiplicar 64 por 9,5 trilhões (60,8 quatrilhões de km). Mas esse é um número tão grande e difícil de se imaginar que os astrônomos preferem representar apenas como 64 anos-luz.

No rastro de um antigo matador

Membros da equipe dos autores escavaram cuidadosamente os restos fósseis,
envolvendo-os em seguida em gesso para serem transportados para os Estados Unidos,
onde os pesquisadores os estudaram detalhadamente em busca
de pistas que indicassem a causa da morte.

As pistas estavam frias - os ossos na vala comum tinham 70 milhões de anos. Mas indícios importantes permitiram descobrir a identidade do assassino.
Por: Raymond R. Rogers e David W. Krause



Um dos corpos encontrava-se deitado sobre o lado esquerdo, com a cabeça e o pescoço próximos à pélvis - uma posição clássica de morte. Braços e pernas pareciam intactos anatomicamente, mas uma inspeção mais detida revelou o deslocamento dos ossos das mãos e dos pés - embora a maioria das partes tenha sido encontrada.



O crânio também estava desconjuntado, com as partes que o compõem uma ao lado da outra. Curiosamente, a ponta do rabo havia sumido por completo. Os outros corpos das imediações apresentavam diferentes estados de preservação e desarranjo.



Enquanto alguns estavam praticamente inteiros, de outros só encontramos o crânio, uma clavícula ou um único osso das pernas ou dos braços. Essas infelizes criaturas teriam morrido aqui ou foram trazidas a esse local após sua morte? Morreram todas no mesmo instante ou em momentos diferentes? E o que as matou?



Nossa equipe começou a levantar tais questões assim que encontramos esse cemitério coletivo em antigos sedimentos no noroeste de Madagascar, no início de 2005 - ilha cuja terra rubra inspirou seu apelido: Grande Ilha Vermelha. Juntamos algumas informações importantes enquanto procurávamos as respostas; no entanto, o caminho até elas talvez seja tão ou mais interessante quanto as respostas em si.



Antes de qualquer coisa, batizamos o sítio arqueológico, designando-o
MAD05-42 para indicar o ano em que foi encontrado e sua posição na seqüência de descobertas de sítios arqueológicos na área. O segundo passo foi identificar os mortos. Baseados em nossas descobertas em outros lugares da região, rapidamente inferimos que a maioria dos restos era de dinossauros de várias espécies.



Esse cemitério de dinossauros não é o único no noroeste de Madagascar. Ele faz parte de um padrão que temos observado repetidas vezes ao longo de uma década de pesquisas geológicas nas pradarias semi-áridas nas proximidades do remoto vilarejo Berivotra.



Nessa região descobrimos camadas e mais camadas de cemitérios coletivos, com restos de animais grandes e pequenos, jovens e velhos, enterrados juntos formando espetaculares brechas ósseas (bonebed, em inglês).



Assim, enquanto trabalhávamos tentando descobrir o que matou os animais no MAD05-42, não podíamos deixar de nos perguntar por que encontramos tantas brechas ósseas naquela região e como elas se mantiveram tão bem preservadas.



Raymond R. Rogers e David W. Krause - Raymond R. Rogers e David W. Krause escavam as espetaculares brechas ósseas de Madagascar desde 1996. Rogers é professor associado e chefe do Departamento de Geologia do Macalaster College e pesquisador associado do Museu Field, em Chicago, e do Museu de Ciências, de Minnesota. Recebeu seu Ph.D. em geologia na Universidade de Chicago em 1995. Krause é professor emérito do Departamento de Ciências Anatômicas da Universidade Stony Brook e pesquisador associado do Museu Field. Obteve o doutorado em geologia na Universidade de Michigan em Ann Arbor, em 1982. Seu trabalho em Madagascar, o quarto país mais pobre do mundo, o levou a criar o Fundo Madagascar Ankizy (www.ankizy.org), entidade sem fins lucrativos que constrói escolas e oferece tratamento médico para crianças em áreas remotas da ilha.


No rastro de um antigo matador

Outros sedimentos, que se acomodaram em rios arenosos,
indicam que fluxo de água variava enormemente.



(continuação]

Reabrindo o Caso.



Chegamos milhões de anos atrasados para usar a maioria das técnicas dos médicos legistas dos dias de hoje. Para termos acesso às informações ocultas sob ossos e pedras, tivemos de recorrer a técnicas de datação geológica e a uma área do conhecimento denominada tafonomia (do grego táphos, sepultura, enterro), que estuda o que acontece com os restos orgânicos quando eles passam do mundo dos vivos à morte.
Após batizarmos o sítio arqueológico, desenterramos os ossos das pedras em que estavam incrustados. Começamos usando pás e picaretas para retirar os sedimentos superficiais, depois passamos a utilizar instrumentos de dentista e pincéis finos para expor os ossos.


Tomamos o máximo de cuidado para não danificar as delicadas superfícies ósseas. Uma vez expostos os esqueletos, eles foram mapeados e fotografados exatamente na posição em que haviam sido encontrados, de modo a registrar qualquer relação espacial significativa.

Em seguida, embebemos os ossos em colas especiais e os envolvemos cuidadosamente com gesso e gaze. Quando o gesso secou, catalogamos os ossos e os encaixotamos para a longa viagem até os nossos laboratórios nos Estados Unidos, onde pacientemente retiramos qualquer sedimento que tivesse sobrado e começamos a estudar os ossos em detalhes. Procurávamos, sobretudo, quaisquer marcas na superfície que pudessem revelar a identidade do assassino.

No sítio arqueológico, foi possível determinar que os mortos foram preservados em uma camada de sedimentos de rocha conhecida como Formação Maevarano, localizada dezenas de metros abaixo das rochas que se acomodaram durante a passagem do Cretáceo ao Terciário - época, há 65 milhões de anos, em que todos os dinossauros (com exceção dos pássaros) e muitos outros animais foram extintos em escala global.


A camada com os restos mortais situava-se 44,5 metros abaixo do estrato correspondente à época da extinção em massa e 14,5 metros abaixo do limite superior local da Formação Maevarano. A medição do decaimento radioativo mineral das rochas vulcânicas nas camadas abaixo da formação resultou em idade de aproximadamente 88 milhões de anos.

Sedimentos marinhos incrustados encontrados acima, originários do movimento das marés ao longo da costa ocidental da ilha, continham conchas e minúsculos esqueletos de microorganismos unicelulares, com datação em outros sítios arqueológicos aproximadamente do final, mas não exatamente dos últimos anos, do período Cretáceo.



Esses dados temporais indicam, portanto, que as mortes ocorreram há cerca de 70 milhões de anos. Portanto, o que matou os animais encontrados nas escavações do MAD05-42 não teve relação alguma com a grande extinção global que ocorreu milhões de anos mais tarde.


No rastro de um antigo matador

[continuação]

Rochas da Formação Maevarano apresentam indícios bastante convincentes de um clima semi-árido e com estações bem marcadas durante o final do Cretáceo. As provas mais eloqüentes são a presença de paleossolos (solos antigos) vermelhos oxidados que contêm conjuntos de raízes verticais muito bem preservadas.


As raízes verticais hoje são comuns em lugares em que as plantas se adaptaram ao clima seco procurando fontes cada vez mais profundas de umidade e de nutrientes. Além disso, muitos dos vestígios de raízes da Formação Maevarano estão incrustados de carbonato de cálcio ou apresentam porções irregulares e dispersas desse mineral chamadas nódulos de carbonato.


Atualmente, solos oxidados enriquecidos de carbonato de cálcio tendem a ocorrer em regiões áridas e semi-áridas em que a evaporação e a transpiração limitam os efeitos da pouca chuva. Outros sedimentos desse antigo terreno se acomodaram no leito de rios rasos e arenosos.


Eles também dão provas fortes de uma história climática subtropical, indicando que a vazão dos rios variava em extremos e muito provavelmente seguindo estações bem delimitadas. Quando os rios estavam cheios, as correntes levavam dunas e ondulações a jusante, o que resultou naquilo que os geólogos chamam de estratificação cruzada: camadas inclinadas empilhadas uma sobre a outra.

Não há dúvida que dinossauros e vários outros animais freqüentavam esses rios em busca de água, alimentos ou refúgio. Com efeito, os ossos encontrados no MAD05-42 estão espalhados em um desses antigos canais. Os rios ficavam secos parte do tempo; às vezes, no entanto, corriam com fúria espumosa, revolvendo massas semifluidas de lama e areia de seu leito. Voltaremos em breve a essas pastas de lama e areia, uma vez que elas guardam papel importante em nossa história.

Identificando o Assassino.

Um animal solitário pode encontrar seu fim de várias maneiras - talvez maneiras demais, se nosso objetivo for identificar claramente o matador pelos registros fósseis. Mas as alternativas diminuem significativamente em casos de morte coletiva, tal como o que ocorreu na Formação Maevarano.


Para nos ajudar a reduzir o número de possibilidades a apenas uma, recorremos novamente à tafonomia. As brechas ósseas de Madagascar geralmente preservam os restos mortais de mais de um tipo de animal - sejam eles diversas espécies de dinossauros, como no MAD05-42, ou de vários, como no caso das escavações do MAD93-18,
que resultaram na descoberta de fósseis de peixes, tartarugas, crocodilos, três tipos diferentes de dinossauros não-voadores, pássaros e mamíferos.


Esse assassino matava indiscriminadamente, sem levar em consideração tamanho, idade, taxonomia ou hábitat - fato que leva a excluir um predador, como dinossauros e crocodilos, ambos carnívoros, porque os predadores modernos em geral apresentam algum grau de seleção de suas presas.

No rastro de um antigo matador

[continuação]


Tampouco há razões para pensarmos em uma situação envolvendo epidemia (embora seja bem difícil identificar doenças por restos fósseis). Pelo fato de os animais terem morrido em momentos diferentes, não temos por suspeitos eventos instantâneos e calamitosos como terremotos, inundações ou incêndios.


Seja lá o que os tenha matado-, o que sabemos é que ele agiu ao longo do tempo e atacava as vítimas uma a uma quando elas se aproximavam do rio - ao qual chegavam por vontade própria. Também temos indícios irrefutáveis de que o assassino realizava seus ataques em locais diferentes, mas valendo-se sempre da mesma tática.
Esses animais não sucumbiram fulminados durante um único dia ruim no Cretáceo tardio - foram vários dias ruins. Quando todas as evidências são consideradas, é possível apontar com segurança o assassino: a seca. Oportunidade para isso certamente houve.
Esse era um ecossistema subtropical com claras indicações de aridez e estações bem marcadas. Além disso, podemos ver que os animais se reuniam no leito seco do rio, muito provavelmente ao redor das poucas poças d'água remanescentes, morrendo à medida que a água limpa e os alimentos iam acabando.



Na atualidade, secas mortíferas, sobretudo em partes da África e no interior da Austrália, levam os animais a se juntar em torno dos poucos recursos que sobraram. Durante uma seca longa, milhares de animais podem perecer a poucos metros de sua última esperança de beber água, e as carcaças se acumularem em "zonas da morte" por anos e anos.

Estudos de mortandades modernas relacionadas a secas indicam que os desafortunados animais preservados nas brechas ósseas da Formação Maevarano poderiam, em última análise, ter morrido de inúmeras causas: desidratação, insolação, desnutrição, talvez até mesmo intoxicação, uma vez que a água vai aos poucos se tornando pútrida e insalubre.


De fato, temos indícios muito seguros de que ocorreram florações de algas nocivas nas poças d'água que os atraíram. Michael Zavada, especialista em pólen do Cretáceo da Universidade Estadual do Leste do Tennessee, conseguiu isolar minúsculos esporos de algas nas pedras ligadas aos ossos; no entanto, ainda resta confirmar se esses esporos são indícios de florações de algas tóxicas.

Mas como é que os corpos dos animais puderam ser preservados - alguns, por sinal, em excelentes condições? Restos biológicos tendem a resistir muito pouco na superfície, onde animais necrófagos e o sol devagar e sempre agem sobre os ossos, destruindo até mesmo os maiores, rachando-os até virarem pó.


Quando se trata da preservação de registros fósseis por longuíssimos períodos, o enterro deve acontecer o mais cedo possível. Com efeito, poderíamos argumentar que, do ponto de vista de um fóssil, um enterro rápido é o caminho mais curto para a imortalidade.

No rastro de um antigo matador

[continuação]


A morte em massa na antiga Madagascar durante o Cretáceo tardio oferecia um lauto banquete para aqueles que se alimentavam dos mortos. Necrofagia, o ato de se alimentar de cadáveres ou de carniça, é um nicho alimentar que precisa ser preenchido para a reciclagem biológica ocorrer a contento, e os profissionais modernos incluem desde bactérias a grandes vertebrados.


Ao lado de nosso colega Eric M. Roberts, que nos acompanhou a Madagascar há uma década na condição de estudante de graduação (e que atualmente dá aulas na Universidade de Witwatersrand, em Johanesburgo, África do Sul), encontramos vestígios de atividade de insetos necrófagos nos ossos de dinossauros de Madagascar: cavidades ovais com 1 cm de comprimento, em geral em partes que haviam sido ocupadas por tecido esponjoso dentro dos ossos.


Essas cavidades são sinais de que besouros adultos infestavam os cadáveres, se alimentavam da carniça e depois colocavam seus ovos nas proximidades. As larvas também se alimentavam da carniça, usando suas fortes mandíbulas para escavar as cavidades, que serviam como câmaras para formação das crisálidas.

Os insetos não eram as únicas criaturas a se alimentar dos mortos. Análises de marcas de mordidas oferecem dados irrefutáveis de que os dinossauros também se fartavam desse repasto.
Trabalhando em colaboração com Kristina Curry Rogers, do Museu de Ciências de Minnesota, registramos marcas de dentes do tetrápode Majungatholus atopus (dinossauro com 7 metros de comprimento) de uma amostra de ossos encontrados em pelo menos três diferentes brechas ósseas. Comparando o formato e o tamanho das marcas de dentes com as mandíbulas e dentes de vários carnívoros, pudemos excluir todos os outros suspeitos portadores de dentes afiados.

Alguns dos ossos mordidos de nossa amostra pertencem ao Rapetosaurus, um dinossauro saurópode de pescoço longo até então desconhecido, que Curry Rogers descreveu em sua dissertação defendida na Universidade Stony Brook.
No entanto, a grande maioria dos ossos com marcas de dentes (basicamente costelas e vértebras) pertencia ao Majungatholus atopus. O canibalismo como estratégia ecológica não é nem de longe raro entre os seres vivos, e ele certamente foi comum entre os dinossauros.

Desenterrar indícios para provar esse ponto, no entanto, é outra coisa, e nas brechas ósseas de Madagascar estão os únicos casos claros e seguros documentados até hoje de canibalismo entre dinossauros.
Infelizmente, os sinais de marcas de dentes não são conclusivos quanto a se os Majungatholus atopus de fato matavam os indivíduos dos quais ele se alimentava - predando, assim, a sua própria espécie - ou se eles simplesmente se aproveitavam da oportunidade para se alimentar de restos das carcaças de outros animais.


A história da massa de terra que forma Madagascar oferece indicações sobre o que matou tantos animais na ilha 70 milhões de anos atrás. No começo da Era Mesozóica (há 250 milhões de anos), Madagascar ficava no coração de Gonduana.

A atividade tectônica rearranjou as placas litosféricas da Terra, e por volta do início do Cretáceo (130 milhões de anos atrás) Madagascar estava posicionada a 400 km do continente africano; ela então se uniu à placa africana e começou a se mover em direção ao norte. Quando as mortes sob investigação se deram, o norte de Madagascar se encontrava próximo a 30º de latitude sul, onde as condições climáticas se alternavam entre secas prolongadas e períodos de chuva intensa.

Fonte:
http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/no_rastro_de_um_antigo_matador.html

Nasa anuncia arquitetura lunar


por Jim Oberg.

Em dezembro, a Nasa anunciou planos de levar humanos de volta à Lua por volta de 2020. Os projetistas da agência espacial definiram que os lugares mais atrativos são as regiões polares. Apesar de as considerações dos engenheiros terem representado um papel importante na decisão, fatores astronômicos também foram fundamentais.

Primeiro, o eixo de rotação da Lua é quase perpendicular ao plano orbital da Terra - por razões que ainda não podem ser explicadas. Isso significa que alguns picos de montanhas, particularmente aqueles próximos ao pólo sul, permanecem permanentemente à luz do Sol. Coletores de energia solar poderiam operar continuamente para abastecer as bases avançadas humanas.


O alinhamento axial da Lua também deixa algumas crateras em escuridão perpétua. E de acordo com a teoria atual, elas estão assim por pelo menos 1 bilhão de anos. Essas regiões poderiam servir como depósitos de gelo de origem cometária e fonte de água.

Uma segunda vantagem astronômica provém da acessibilidade das regiões polares. Para expedições de superfície de longa duração, os pólos são os pontos mais acessíveis da Lua para o lançamento de uma nave de sua superfície que iria se encontrar com um veículo em órbita. Este, então, retornaria à Terra.

Estrelas duplas mais coloridas do céu

As estrelas duplas são alvos fáceis para telescópios de todos os tamanhos.
Muitas combinam estrelas de cores deslumbrantes.
Por serem fontes pontuais, você pode observar as mais brilhantes mesmo sob céu claro.


Você não terá problemas para desfrutar dessas belezas celestiais com um telescópio pequeno, mesmo com alguma névoa e poluição luminosa.

Por James Mullaney.


Observar estrelas duplas é uma das experiências mais fascinantes, ainda que menosprezada, na investigação do céu. Mesmo pequenos telescópios podem enxergar milhares destas jóias e nenhum par é exatamente parecido. Além disso, você pode apreciá-las em noites que servem para tudo, exceto para observar outras maravilhas do céu profundo, devido à neblina, interferência luminosa da Lua ou artificial.


Enquanto duplas de azuis e brancas bem conhecidas como Mizar (Zeta [z] Ursa Majoris) e Castor (Alfa [a] Geminorum) ou algumas douradas como Algeiba (Gamma [g] Leonis) aparecem bem no telescópio, são os pares com contrastes marcantes de cores que empolgam a maioria dos observadores.


Você descobrirá alvos entre as estrelas vistas a olho nu, que se distinguem bem quando vistas pelo telescópio. Como disse J. Dorman Steele há mais de um século, "cada cor que fulgura nas flores do verão incandesce nas estrelas à noite". E enquanto muitas destas cores são ilusórias - resultado dos efeitos do contraste entre estrelas de brilho diferente - em outros casos elas são reais.


Aqui estão 21
das duplas coloridas de que mais gosto. Organizadas em ordem de ascensão reta, elas fornecerão a você um ano inteiro de prazer em suas observações. Para melhor resultado, use a menor magnificação capaz de separar cada par. Às vezes, desfocar um pouco a imagem (o que uma vista ruim já faz) ajudará a perceber tonalidades sutis, pelo espalhamento da luz por uma área maior de sua retina.







Estrelas duplas mais coloridas do céu

(continuação]

Presentes duplos da primavera. A constelação de Cassiopéia abriga uma gema pouco conhecida - a Struve 3053 - cujos tons dourado e azul fazem alguns observadores relembrar a famosa Albireo, que é vista no inverno. Apesar de ser notavelmente mais pálida, a Struve 3053 é uma presa fácil para um telescópio de 8 cm (3 polegadas) com 30x. Ela é melhor observada com um telescópio de 20 cm (8 polegadas) a 60x.


Eta () Cassiopeiae é uma bela dupla em que a estrela principal, amarela e de quarta magnitude, brilha mais que sua companheira, que é roxo-avermelhada. Ela já foi descrita como castanha, lilás, lavanda e mesmo alaranjada por outros observadores. Um telescópio de 5 cm (2 polegadas) a 25x mostra a cor característica da componente menos brilhante, mas Eta se torna mais surpreendente à medida que a abertura aumenta. Com um telescópio de 25 cm ou 30 cm a 60x ou
mais, prepare-se para ficar boquiaberto.


Uma das estrelas duplas mais coloridas é Almach (Gama [] Andromedae). A estrela principal tem cor topázio e sua companheira aparece em tom de água-marinha. As cores são lindas com um telescópio de 10 cm, de 50x a 100x.
Devido às estrelas estarem separadas por apenas 10", a visão não perde impacto quando feita com telescópios grandes. Os observadores tendem a usar magnificações mais altas com telescópios maiores, de maior distância focal. Muitas vezes isso separa excessivamente os pares.


Abaixo de Órion, em Lepus, você encontrará Gama () Leporis, uma dupla grande e atrativa para telescópios pequenos. A estrela principal é amarelada e a outra, castanho-avermelhada. O colunista de Astronomy Phil Harrington descreve o par como "banhado com cor viva", e o considera um dos mais admiráveis do céu. Enquanto uma bela vista pode ser obtida com um refrator de 5 cm a 25x,
a dupla é muito separada para obter melhores resultados com magnificações maiores.


Em um artigo há alguns anos, chamei h3945 em Canis Major de "Albireo do verão", e o apelido parece ter pegado. Este conjunto magnificamente colorido brilha com tons de vermelho-fogo e azul-esverdeado. As duas estrelas são impressionantes com um telescópio de 8 cm a 30x e maravilhosas com instrumento de 15 cm a 50x. O prefixo "h" indica que é uma das muitas duplas descobertas pelo astrônomo inglês John Herschel
(1729-1871).


Pares especiais do outono. Iota () Cancri é uma estrela dupla laranja e azul que você pode distinguir até com binóculos com aumento de 7x. É uma vista admirável mesmo para o menor telescópio. A conhecida observadora de estrelas duplas Sissy Haas, da Pensilvânia, pensa que o par tem o contraste de cor mais evidente do céu visto por seu refrator de 5 cm. Ela considera Iota melhor que Albireo. A percepção de cor varia entre as pessoas, então assegure-se de checar Iota por si mesmo.


Alaranjado vivo e esmeralda devem ser as melhores cores para descrever a 24 Comae Berenices. Ela permite uma visão excelente com um telescópio de 10 cm a 45x, e está esperando por você entre as muitas luzes pálidas desta constelação rica em galáxias. Você não precisará de um telescópio maior para observar a estrela principal, de magnitude 5, e a secundária, de
6,3.


Chamada de Pulcherrima, "a mais bela", pelo observador russo Wilhelm Struve (1793-1864), Izar (Epsilon [] Boötis) exige magnificação relativamente alta e boas condições para uma distinção clara por telescópios pequenos. Um telescópio de 13 cm a 100x é capaz disso. O de 8 cm a 150x
mostra seus discos amarelo-dourado e verde-azulado quase se tocando - uma vista verdadeiramente fascinante!


Xi () Boötes é um par amarelo e roxo-avermelhado que causa surpresa e empolgação a qualquer um que a vê pela primeira vez. De visão absolutamente refinada com um telescópio de 15 cm a 50x, seus tons são bem vistos com telescópios grandes, que muitas vezes saturam as cores das duplas mais brilhantes devido ao excesso de luz. Nestes casos, é bom diminuir a abertura.

Estrelas duplas mais coloridas do céu

[continuação]


Se você gostou de Xi Boötes, Kapa () Herculis aparece como um clone maior dela. É fácil distingui-la com um telescópio de 5 cm a 25x, com as cores amarelo e castanho-avermelhado, e a lateral possivelmente tingida de um tipo de alaranjado. As estrelas se separam por 27" e brilham com magnitude de 5,1 e 6,2.

Antares (Alfa [] Scorpii) é a mais difícil mas a mais espetacular (ao menos quando vista por grandes telescópios) de nossa lista. A estrela maior, vermelho-fogo, é acompanhada de perto por uma parceira que só pode ser descrita como verde-esmeralda.

Mas esta cor verde é verdadeira? O observador e escritor William H. Smyth (1788-1865) observou a estrela companheira ao emergir, antes da principal, de um eclipse da Lua. O tom esverdeado visto por ele, então, não resultou de um efeito de contraste com a estrela principal. Observações similares recentes atribuem uma cor azul à companheira.


Você pode distinguir as estrelas de Antares com um telescópio refrator de 13 cm, a 100x, em noites de boa visibilidade. Vista com um refrator de 33 cm a 190x, esta é possivelmente a estrela dupla mais espetacular do céu!


A aconchegante par laranja e verde-azulado Ras Algethi (Alfa Herculis) remete os observadores a Antares. Um telescópio de 5 cm a 75x distinguirá bem as duas, e elas formam uma vista adorável com um telescópio de 20 cm a 100x. A magnificação necessária para separar Ras Algethi depende do brilho da estrela variável principal.


Omicron () Ophiuchi tende a ser suplantada pelos diversos aglomerados globulares encontrados nesta região, mas não a perca de vista. Essas jóias alaranjada e azul, separadas por apenas 10", são maravilhosas vistas por um telescópio de 8 cm, a 30x.


95 Herculis é preciso ver para acreditar! As cores são exatamente como Smyth descreveu há mais de 150 anos: verde-maçã e vermelho-cereja. Estes tons surpreendentes brilham sutilmente, mas com persistência em todas as aberturas de telescópio, e são melhor vistas com o de 15 cm, a 50x.


A dupla 70 Ophiuchi tem um tipo de contraste inteiramente diferente da maioria das estrelas a que nos referimos - amarelo e vermelho. Alguns observadores dizem ter visto um toque persistente de violeta na estrela companheira, de sexta magnitude. O tom que você vê depende da percepção de cor de seus olhos.


A magnífica Albireo (Beta [] Cygni) tem a responsabilidade de ser "a estrela dupla favorita de todas as pessoas", não por acaso. Suas gloriosas cores alaranjada e azul são inconfundíveis mesmo em um telescópio de 5 cm, a 20x, e podem ser vistas por binóculos 10x50. E essas cores são definitivamente reais.

Estrelas duplas mais coloridas do céu

(continuação]


A nomenclatura das estrelas duplas é simples. A "principal" é a dupla mais brilhante do par e os astrônomos as consideram o centro do sistema. A estrela mais pálida é a companheira, ou "secundária". A "separação" mede a distância entre as estrelas em segundos de arco. Os astrônomos medem o ângulo de posição em graus do norte (0°) para oeste (90°) e retornando ao norte (360°).


A ESTRELA PRINCIPAL de Ras Algethi (Alfa [] Herculis) varia de magnitude 2,7 a 3,9, enquanto a companheira mantém magnitude 5,4; A 70 OPHIUCHI exibe cores incomuns para uma estrela dupla. O par combina uma principal amarela de magnitude 4,2 com uma companheira vermelha de magnitude 6,2. OPHIUCHUS, A PORTADORA DA SERPENTE, é uma constelação ao norte do centro da Via Láctea. Hercules fica em sua margem norte;


OMICRON (o) CYGNI é um par bastante separado (106") que fica a a oeste-noroeste de Deneb (Alfa Cygni). Com baixa magnificação, esta estrela dupla imita Albireo, amarela e azul; CYGNUS, O CISNE, fica ao longo dos densos campos de estrelas da Via Láctea e por isso mesmo é repleto de grandes estrelas duplas para telescópios de todas as aberturas;


ALBIREO (Beta [b] Cygni) marca a cabeça de Cygnus, o Cisne. Albireo pode ser a estrela dupla mais conhecida do céu. Suas componentes dourada e safira brilham com magnitudes 3,4 e 4,7; BOÖTES possui muitas estrelas duplas, mas poucas tão brilhantes quanto Izar;


IZAR (Epsilon [e] Boötis) combina a luz de estrelas de magnitudes 2,6 e 4,8. Se você tiver dificuldade para encontrá-la, apenas olhe 10° a nordeste de Arcturus (Alfa Boötes). As componentes desta estrela dupla se separam por apenas 3", então use magnificação alta para separá-las;


Gama () Delphini fica a cerca de 15° a leste-nordeste da brilhante Altair (Alfa Aquilae), na ponta do paralelogramo que forma a pequena constelação Delphinus. Tipicamente, os observadores descrevem as cores deste par como amarelo e verde-limão;


DELPHINUS, O GOLFINHO contém diversos objetos interessantes, como o aglomerado globular NGC 7006. Sua estrela dupla mais interessante é Gamma.

Fonte:
http://www2.uol.com.br/astronomy/reportagens/estrelas_duplas_mais_coloridas_do_ceu.html

Em busca da "Partícula de Deus"


Atlas era um dos titãs da mitologia grega, condenado para sempre a sustentar os céus sobre os ombros. Aqui, Atlas é um dos quatro gigantescos detectores que farão parte do maior acelerador de partículas do mundo, o LHC, que está em fase adiantada de testes e deverá entrar em operação nos próximos meses.


LHC é uma sigla para "Large Hadron Collider", ou gigantesco colisor de prótons. Parece difícil exagerar as grandezas desse laboratório que está sendo construído a 100 metros de profundidade, na fronteira entre a França e a Suíça. A estrutura completa tem a forma de um anel, construída ao longo de um túnel com 27 quilômetros de circunferência.


As partículas são aceleradas por campos magnéticos ao longo dessa órbita de 27 Km, até atingir altíssimos níveis de energia. Mais especificamente, 7 trilhões de volts. Em quatro pontos do anel, sob temperaturas apenas levemente superiores ao zero absoluto, as partículas se chocam, produzindo uma chuva de outras partículas, recriando um ambiente muito parecido com as condições existentes instantes depois do Big Bang.


Nesses quatro pontos estão localizados quatro detectores. O Atlas, mostrado na foto nas suas etapas finais de montagem, é um deles. O Atlas, assim como o segundo detector, o CMS ("Compact Muon Detector"), é um detector genérico, capaz de detectar qualquer tipo de partícula, inclusive partículas ainda desconhecidas ou não previstas pela teoria. Já o LHCb e o ALICE são detectores "dedicados", construídos para o estudo de fenômenos físicos específicos.

Em busca da "Partícula de Deus"

Bóson de Higgs

Quando os prótons se chocam no centro dos detectores as partículas geradas espalham-se em todas as direções. Para capturá-las, o Atlas e o CMS possuem inúmeras camadas de sensores superpostas, que deverão verificar as propriedades dessas partículas, medir suas energias e descobrir a rota que elas seguem.


O maior interesse dos cientistas é descobrir o Bóson de Higgs, a única peça que falta para montar o quebra-cabeças que explicaria a "materialidade" do nosso universo. Por muito tempo se acreditou que os átomos fossem a unidade indivisível da matéria.
Depois, os cientistas descobriram que o próprio átomo era resultado da interação de partículas ainda mais fundamentais. E eles foram descobrindo essas partículas uma a uma. Entre quarks e léptons, férmions e bósons, são 16 partículas fundamentais: 12 partículas de matéria e 4 partículas portadoras de força.


A Partícula de Deus

O problema é que, quando consideradas individualmente, nenhuma dessas partículas tem massa. Ou seja, depois de todos os avanços científicos, ainda não sabemos o que dá "materialidade" ao nosso mundo.
O Modelo Padrão, a teoria básica da Física que explica a interação de todas as partículas subatômicas, coloca todas as fichas no Bóson de Higgs, a partícula fundamental que explicaria como a massa se expressa nesse mar de energias. É por isso que os cientistas a chamam de "Partícula de Deus".



O Modelo Padrão tem um enorme poder explicativo. Toda a nossa ciência e a nossa tecnologia foram criadas a partir dele. Mas os cientistas sabem de suas deficiências. Essa teoria cobre apenas o que chamamos de "matéria ordinária", essa matéria da qual somos feitos e que pode ser detectada por nossos sentidos.



Mas, se essa teoria não explica porque temos massa, fica claro que o Modelo Padrão consegue dar boas respostas sobre como "a coisa funciona", mas ainda se cala quando a pergunta é "o que é a coisa". O Modelo Padrão também não explica a gravidade. E não pretende dar conta dos restantes 95% do nosso universo, presumivelmente preenchidos por outras duas "coisas" que não sabemos o que são: a energia escura e a matéria escura.



É por isso que se coloca tanta fé na Partícula de Deus. Ela poderia explicar a massa de todas as demais partículas. O próprio Bóson de Higgs seria algo como um campo de energia uniforme. Ao contrário da gravidade, que é mais forte onde há mais massa, esse campo energético de Higgs seria constante.



Desta forma, ele poderia ser a fonte não apenas da massa da matéria ordinária, mas a fonte da própria energia escura. Em dois ou três anos saberemos se a teoria está correta ou não. Ou, talvez, nos depararemos com um mundo todo novo, que exigirá novas teorias, novos equipamentos e novas descobertas.


Fonte: http://www.inovacaotecnologica.com.br